segunda-feira, julho 27, 2015

Apenas mais uma tarde de praia ou uma vida de inferno?

Supostamente a praia é um local agradável para bronzear, ir a banhos, ler, relaxar... ou talvez não!

Uma tarde de praia também pode tornar-se num inferno!

É ligeiramente irritante estar a passar pelas brasas, e acordar com o choro de um bébé. No entanto, sendo mãe, conheço a sensação de querer acalmar o nosso bébé e quanto mais lhe mexemos mais ele berra. Conheço a vergonhazinha de estarmos a incomodar o sossego dos que nos rodeiam.

O que me perturbou não foi propriamente o choro da criança, mas a discussão dos pais (ou melhor dizendo do pai para a mãe) que se incendiou misturada com o choro:
- tás parva? Então eu fui lavar o miúdo e tu vais metê-lo na areia outra vez, sua anormal?
- fui lavar o miúdo para quê, estúpida de merda? 

Não, não era eu armada em cusca. Era perfeitamente audível para quem estivesse ali perto. Não a voz dela, só os gritos histéricos dele e a choradeira do menino. E ele continuava, mortificava, crucificava vezes sem conta:
- para falares da minha mãe lava bem a boca primeiro!
- És mesmo parva, fui eu lavar o miúdo!

Pegou na criança e tentava mudar-lhe a fralda dizendo:
- é uma estúpida, fui eu lavar-te para nada. Já estragou o fim-de-semana, a estúpida!
- Dá aí uma fralda! Mete o miúdo direito para eu lhe meter a fralda.

A criança permanecia num choro sufocante, enquanto ele grunhia:
- Grrr, caralho! Mas por que é que ele não se cala? A última vez que veio à praia não fez nada disto, caralho!

Não conseguia parar de pensar: se este era o cenário em público, como seria a vida deste casal dentro de quatro paredes?

Perdi a vontade de estar na praia, e a revolta era tanta que só me apetecia afastar a criança daquela cacofonia infernal.

Para além disso, a passividade daquela mulher perturbou-me, enquanto mulher e enquanto mãe que sujeita o filho a este ambiente. Por um lado, compreendo que se tivesse remetido ao silêncio para evitar mais confusão em público. Por outro lado, pareceu-me que ela não tinha efectivamente capacidade de resposta, e que aquilo já era habitual.

Tive vontade de me aproximar daquela mulher e dizer-lhe que ela não tem de aguentar este tipo de tratamento. Que isto não é vida, que isto não é amor. Mas para quê? O mais certo seria dizer-me para me meter na minha vida. O mais certo seria dizer-me que ele não é assim, que até tem dias em que é meigo, que é bom pai, que ao menos não bebe, que não deixa faltar nada em casa, e apresentar-me uma panóplia de desculpas mais ou menos válidas para aquele filme. O mais certo é terem saído dali e ela ter fingido o resto da tarde que nada se passou...e continuar a fingir para o resto da sua vida.

Recentemente, uma pessoa minha conhecida perdeu a vida na luta contra o cancro (mais uma). Vi o marido dessa senhora despedir-se dela no caixão enchendo-a de beijos: na testa, no nariz, nos lábios. Das suas vidas em comum, trabalhando inclusivamente juntos no negócio de família, resultaram duas carinhosas filhas e três netos.  Apesar da partida prematura desta mulher cheia de energia e vontade de viver, alegra-me saber que levou uma vida de amor, cumplicidade, respeito e companheirismo. Tudo o que seja abaixo disto é muito pouco, ou nada!










2 comentários:

  1. Pobre criança. Tenho muita dificuldade em perceber e respeitar pessoas assim. Também me teria estragado o dia. :(

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    1. A mim estragaram-me o dia, ao menino estão a rebentar-lhe com a vida...

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